by Viviane Lago

Ontem me peguei assitindo a episódio atrás de episódio de uma série que nunca antes me havia chamando a atenção, e que para mim sempre foi mais uma sériezinha boba, besta, ou infantil…. mas eu fiquei ali, vidrada, querendo saber o que vem depois…. Daí foi quando me dei conta de uma coisa: eu gosto de escutar aquela voz que dá vida aos pensamentos sombrios e fugazes que faz justifiicativas as ações; gosto daquele contador de histórias que vai tecendo sua trama na minha cabeça (ali, onde tudo o que diz vai se tornando realidade) e gosto mesmo. De verdade! É o que me cativa… seja em literatura, seja em filmes, ou em séries.
Daí me perguntei o que é que eu gosto naquilo tudo?… Porque a narrativa me cativa? Como é constuituída para me engambelar desse jeito? Como é tecida essa trama tão complexa que me envolve sem misericórdia? Como é possível uma conclusão com gancho tão bem executada vai me arremessar a um outro capítulo? E por fim: como eu mulher inteligente, empoderada, dona dos meus pensamentos e sentimentos, enfim dona de mim mesma posso me envolver tão profundamente com esses personagens que vão se esgueirando com besteiras que eu mesma poderia ter dito? E o pior de tudo: por quê razão eu fico torcendo tão intimamente por eles?
Foi quando eu me dei conta….
O truque da narrativa, para mim, é o melhor de todos, sabe por quê? Porque ele tem vários tentáculos que vão me envolvendo de diferentes formas. Porque nem sempre o resultado do twist é o que eu espero e é neste twist quando vejo o personagem no seu pior momento crescer e se modificar. É no seu momento de fraqueza, quando se me está explicando porque perdeu tão derrotadamente, e quando finalmente posso sentir uma comiserada compaixão e empatia nos seus momentos mais vulneráveis. É durante a narrativa que ele me recruta sem dó nem piedade para ser seu cúmplice. E tudo isso só porque o narrador esta conversando comigo, dentro da minha cabeça, ele me cativa psicologicamente, emocionalmente dentro da lógica mais destorcida e mais estranha que possa haver; porque naquele discurso, isso faz sentido, dentro daquele contexto que ele vai me explicando e eu entendo que aquela é a decisão mais acertada, mais coerente. E assim o narrador vai me transformando, não em um cliente, não em um espectador, não em um leitor voraz, mas em um comparsa fiel e uma pessoa relutante em apertar o botão de desligar no controle remoto…