Faça da minha boca
Seu mais valioso cálice
E se no calar-se
Ainda clama,
E bebe-me a chama
Que é em si mesmo
O próprio falar-se
Traz a mim a sua presença
E torna-me tua como se tua fosse,
Porque sou teu cálice,
Embebida inteira,
Deste amor doce.

Podem ser estáticas as fotos, não porém os poemas. Eis que as rimas me vieram distintas… espero que lhe toquem onde lhe seja mais tocante:
E assim me entardeci
Allegro afetuoso
Com a pluriplúmbea
Face tua pictórica
Presente porém distante
A dilacerar todavia
Como um maremoto
Num átimo num zás
A trincada taça
Em que tu a beijar
Sorvias a sorrir
Sabias o vinho
Que ninguém
Via
Ali estava carnuda
Tua boca carmim
Cinérea contudo
Na imagem sem foco
A beijar baça
A luz que vinha
Como um hálito málico
De mauvaises mots
Para dentro de mim
I.B.
Essa foto pluriplúmbea me invade como um maremoto, arrasta para dentro de mim tudo quando dela vem: mauvaises mots cor de malva em hálito málico… Uma imagem que faz verter em mim estes versos:
Tão negros quanto teus olhos os dias me anoitecem
E tão frescas quanto as memórias são as dores do perder-te.
Meu coração, deserto de razões, inundado de lágrimas,
Varrido pelos ventos violentos dos desejos incontornáveis,
Fustigado pelas imagens do não-sido,
Transido pelas fendas abismais do tempo irreversível,
Coração de cordas inúmeras, silente agora sem tuas mãos,
E que urra em suplício, exangue, num peito de ti desterrado.
I.B.