Meu filho mais velho teve este livro como leitura obrigatória e eu me disponibilizei em ler junto com ele – em inglês mesmo. O resultado não podia ser outro senão uma mesa de jantar cheia de reflexões sobre este livro e seus assuntos (nada leves, nem superficiais).
Quando acabei de ler o livro tive a impressão de estar escutando uma menininha do interior dos Estados Unidos conversando comigo e me fazendo pensar sobre a vida – assim mesmo.
Toda a narrativa é feita em primeira pessoa e Scout, a protagonista, é uma garotinha de 6 a 7 anos de idade (a idade do meu filho mais novo) e que vai dando o seu parecer e ponto de vista para as situações que vão acontecendo no período de 1933 a 1935. Seu pai, Atticus um advogado de uma cidade pequena no Alabama, ensina a seus filhos (Scout e Jem) a ler e escrever antes de eles irem pra escola e quando chega o momento irem, eles provocam uma série de reações interessantes e inusitadas dentro da escola.

Porém o livro tem uma virada e os eventos que sucedem tem um desenrolar curioso. Os temas centrais do são o racismo, o estupro e a justiça – que será defendida com unhas e dentes pelo pai de Scout e Jem. Mas veja bem, estamos num Estados Unidos durante a segunda Guerra Mundial quando os direitos das minorias (mulheres e negros, neste caso) estavam começando a despontar.
A ética e a moral de Atticus é a referência para os personagens e suas ações fazem com que as pessoas dessa cidade pequena, reflitam sobre a humanidade e as decisões que tem que tomar. Um dos acontecimentos centrais do livro é o julgamento de Tom Robison, cidadão afro-descendente, de quem Atticus é o advogado de defesa por determinação do juiz.
E por causa disso a as crianças começam a

escutar que seu pai é um “nigger lover”, mesmo sem entender exatamente o que isso quer dizer, Scout e Jem se vêem forçados a defender a honra de Atticus. A partir de então, acontecem uma série de cenas evidenciando o preconceito e a maneira como Scout (de seis anos de idade) processa essa informação.
A acusação a Tom Robison é que ele estuprou a uma moça, branca. Mas Atticus, vai provar que essa acusação é uma fachada apenas para acobertar os maus tratos que ela recebeu de seu pai, o bêbado da cidade, por tê-la flagrado em dar em cima de Robison. Apesar de tudo ter ficado evidenciado – pois não existem provas – o réu é condenado e morre ao tentar escapar da prisão.
Cada um dos personagens são complexos, táteis, com amores, ódios, paixões e desgostos. São gente de verdade, com quem você se pega conversando, discutindo e refletindo. Personagens tridimensionais com suas oscilações de caráter, ética e moral.
Mas como não podia deixar de ser – e para que nós, leitores, também tenhamos um desfecho satisfatório, Lee Harper nos presenteia com a justiça divina, que chega de forma surpreendente e inesperada, como que dizendo: “a justiça tarda mas não falha”.
Apesar de ter sido publicado em 1960, To kill a Mockingbird rapidamente se transformou em um clássico e importante instrumento de reflexão em relação ao racismo, estupro, empatia e justiça e precisamente por isso continua sendo tremendamente atual.
Fico feliz de que meu filho e eu possamos discutir e refletir de maneira madura sobre assuntos que são tão delicados e tão urgentes de pensamentos.
To kill a Mockingbird foi traduzido pro português como “O Sol é para todos” e tem o filme correspondente com o mesmo título em que atuam Gregory Peck e Robert Duvall.
“Só existe um tipo de gente: gente”
“As pessoas sensatas não se orgulham de seus dotes naturais”
“Quando crescer, todos os dias você verá brancos ludibriando negros, mas deixe-me dizer uma coisa e não se esqueça disso: seempre que um branco trata um negro dessa forma, não importa quem seja ele, o seu grau de riqueza ou linhagem de sua família, esse homem é lixo”
“Não se sinta ofendida quando alguém lhe disser uma expressão feia. Isso não deve atingi-la, apenas revela a pobreza de quem falou”.
“Antes de poder viver com os outros, eu tenho que poder viver comigo mesmo. A consciência de um indivíduo não deve subordinar-se a lei da maioria”
… “you just hold your head high and keep those fists down. No matter what anybody says to you, don’t let them get your goat. Try fighting with your head for a change … it’s a good one, even if it does resist learning.”